domingo, 12 de novembro de 2017

Os laços que permanecem


Hoje, voltando pra casa, deparei-me com uma cena bonita pra acalmar os ânimos, desacelerar e, então, deixar de ser protagonista da minha vida tão inquieta pra ser telespectadora de outra história, mais antiga que a minha (não menos importante, é claro).
Lá, nos dois primeiros acentos do ônibus, aqueles destinados pra um grupo seleto de pessoas, duas senhorinhas repousavam. Os pezinhos cobertos pelas marcas do tempo, repousando na parte que lhes era destinada. Descalças. Leves. As duas de cabelos grisalhos e roupas floridas. Uma mistura geniosa de sabedoria e simplicidade. Conversando e rindo de coisas que não pude entender, mas logo notei que eram próximas. Não estavam dividindo aquele assento como meras almas que o destino colocou ali, não. Elas eram próximas. Amigas. Talvez irmãs. Algum tipo de conexão profunda que me fez pensar no tempo e nas pessoas que amo. Naquele instante, quando vi a maior delas abrindo um pequeno pote para pegar uma maçã enquanto a menor tentava matar alguns pernilongos, percebi que aquela cena não era só delas, era minha também. Delas e dos meus pensamentos, que me colocaram a pensar na beleza daquele momento, da simplicidade da vida. Olhei pros meus pés. Nenhuma marca do tempo. Olhei de volta para elas, lembrando de vezes assim, ônibus, amigos, melhor amiga. Pessoas que amo. Já estive ali, naquela situação, sem marcas do tempo na pele. Pensei. Rezei. Pra Deus e pro Destino. Pra estar ali, daquele jeito, com aquela alegria serena e com alguém que eu ame pra dividir o banco ao lado, não importando em qual ano dois mil (e tantos) eu esteja.


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