segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Texto para um amor bonito.


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     Escolho esse assento no ônibus enquanto rezo mentalmente para o assento ao lado estar vazio. Não tenho fobia social, tão pouco sou a antipática da família, mas, digamos que eu aprecio passar a viagem toda bem folgadona, jogando minhas bolsas em um dos bancos e claro, aproveitando com exclusividade da vista que só o assento da janela pode me proporcionar. Justamente por ela, depois de me acomodar graciosamente, observo você entrar em seu carro a medida que a cidade vai ficando para trás, levando junto mais um final de semana que dividimos, nossos beijos tímidos pela manhã e nossos abraços apertados em cada despedida. É pensando nisso que fecho meus olhos, e embalada pelas canções do celular, faço uma retrospectiva mental dos seus pequenos gestos diários que me encantam; Aqueles que você deve jurar passarem despercebidos pelos meus olhos, na maioria das vezes cansados e sonolentos, mas sempre atentos, buscando observar e memorizar cada particularidade sua. Desde aquela cicatriz na bochecha esquerda que você ganhou na infância até a forma como sua voz muda ao falar comigo, ganhando uma entonação totalmente desconhecida durante esses meus vinte e poucos anos. Você tem voz de proteção, de cuidado, de carinho incondicional, doando a melhor parte de quem você é, sem exigir nada em troca.

     Sei que não há exigências, mesmo quando você faz birra e diz que não vai mais me beijar porque esquivei-me do último beijo. Dou risada. Você exibe uma expressão séria até eu fingir acreditar em sua braveza. Aí te encho de beijos e peço desculpas, desculpas, desculpas. Eu tava só brincando quando disse que não queria mais estalar meus lábios nos seus. E você, depois de tirar o bico dos lábios, assume que ainda sou seu amor. Que eu sempre serei, de qualquer forma.


      Pensando nisso, lembro-me de todos os meus textos espalhados pelos cadernos e diários, abordando minhas desilusões amorosas, cética sobre a possibilidade de existir alguém que pudesse gostar de cada particularidade minha. Alguém que fosse ficar feliz pelo fato de acordar ao meu lado (tendo que lidar com meu cabelo bagunçado, cara amassada e hálito matinal). Logo eu, que depois de tantos traumas, pensava ser impossível encontrar um amor que resolvesse me apresentar pra família toda, que fosse me incluir nos passeios, viagens, naquela almoço de domingo com a mãe, o pai, os avós e o cachorro. 

      ...Eu que nunca havia pensado dizer "sim" em alto e bom som, me vi dizendo à ti, sentindo um imenso frio na espinha, o sorriso perdido em meio a tanta timidez, mesmo carregando uma vontade gigantesca de fazer dar certo. Eu que nunca havia pensando em escrever palavras tão piegas e românticas, aqui estou, escrevendo isso pensando em você.
      

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